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Alto do Moura e sua arte é tema de estudo publicado pela Cepe Editora

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O Alto do Moura, bairro situado a sete quilômetros do centro de Caruaru, no Agreste pernambucano, pode até não ter nascido do barro, mas dele se criou. Tanto que num pórtico em sua entrada se lê: O maior Centro de Artes Figurativas das Américas". Também da cerâmica nasceu a fama do residente mais ilustre que esse povoado já teve, Mestre Vitalino (1909-1963), considerado um dos maiores artistas da história do barro no Brasil.

Mas nem só de fama e barro vive a comunidade, como comprova o livro Além do barro: heranças de Vitalino no Alto do Moura do século XXI, que será lançado pela Cepe Editora na quarta-feira (12), às 17h, no Espaço Janete Costa da 23ª Fenearte. Assinada pelo professor e pesquisador do Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes da Universidade Federal da Paraíba Marcio Sá (Foto: Leopoldo Nunes/Cepe), a obra é resultado de entrevistas e observações feitas pelo autor no Alto do Moura, cujo reconhecimento social só faz crescer, assim como os desafios para a sobrevivência da cultura artesã no bairro mais badalado de Caruaru.

“A proposta do livro é apresentar os principais resultados da pesquisa, realizada de 2016 a 2021, sobre a condição de pessoas que seguem no ofício da artesania em pleno século XXI”, resume Marcio Sá. De acordo com ele, Além do barro se une a esforços de pesquisa anteriores, que resultaram nas publicações Feirantes (UFPE, 2019) e Filhos das Feiras (Massangana-Fundaj, 2018). O livro da Cepe seria um “terceiro esforço de interpretação de parcela da gente, dos negócios e do trabalho no Agreste pernambucano e, por que não dizer, com potencial de inspirar também compreensões sobre outros agrestes Brasil e mundo afora”, revela.

Marcio ressalta ainda sua relação afetiva com o Alto do Moura, onde fez morada quando atuou no Centro Acadêmico do Agreste da UFPE, em Caruaru. “Subia e descia diversas vezes a Rua Mestre Vitalino, conversava com artesãos que conviviam com o dilema de se dedicar ao trabalho autoral ou à reprodução de peças em série, ou ainda de abrir um negócio diferente do artesanato, ou mesmo tentar uma ocupação ‘lá na cidade’, como eles dizem. O fato de ter vivido lá me permitiu uma proximidade singular com tais questões, bem como acesso diferenciado aos entrevistados”, informa o professor.

O ponto de partida para a obra, que tem 278 páginas, é uma pesquisa acadêmica, mas a linguagem científica foi adaptada ao texto literário. Com isso, a leitura está acessível a “todos os interessados em conhecer os dramas e as tramas que artesãos e suas comunidades enfrentam na contemporaneidade”, garante o escritor. “O livro pode interessar ao leitor que deseja compreender como as pessoas seguem enfrentando os desafios e as tensões de sobrevivência simbólica e material neste século”, complementa o autor.

A urbanização desordenada afetou em cheio os artistas, como constata a pesquisa, em decorrência do aumento da violência, da população e do comércio, além da radical mudança estética do bairro. Aliado a esse problema, há a alta concorrência entre artesãos, atravessadores que pagam pouco, agiotas, desapego à tradição, preferência por outras profissões supostamente mais promissoras e a dificuldade em conciliar habilidades artística e empreendedora.

“As questões urbanísticas (loteamentos, novas fachadas de cerâmica, novos conjuntos habitacionais, novos habitantes etc.) são, aos meus olhos, as mais difíceis de conter e, mais ainda, de se reverter”, destaca o escritor. “É preciso política e gestão pública de qualidade para que o Alto do Moura possa melhor se situar no presente, mas é indispensável uma atitude renovada e de enfrentamento dos desafios comunitários. Tudo isso pode significar atualizar, reinventar, ressignificar, enfim, trazer as heranças mais substantivas do Mestre Vitalino, de fato, ao nosso tempo”, conclui o pesquisador.

Vitalino Pereira dos Santos, o popular Mestre Vitalino, nasceu e morreu em Caruaru. Ele aprendeu com a mãe, quando era criança, a modelar a cerâmica para criar objetos e figuras de todos os tipos. Ainda pequeno, começou a vender seus bichos de barro, chamados de “loiça de brincadeira”, como observa Marcio Sá em trecho do livro. A Cepe Editora fez mais dois lançamentos na Fenearte: Feira de Sonhos - Artesanato Pernambucano, de Catarina Lucrécia, Daniela Nader e Márcio Markman, com o perfil de 15 mestres e mestras, e A Lírica de Carlos Augusto Lira (segunda edição), que faz o registro da coleção de arte popular e erudita do arquiteto e colecionador Carlos Augusto Lira.

 

Serviço

Lançamento do livro Além do barro: heranças de Vitalino no Alto do Moura do século XXI, com bate-papo entre Marcio Sá e Diogo Helal, pesquisador da Fundação Joaquim Nabuco

Quando: 12/07 (quarta-feira)

Onde: Espaço Janete Costa (área externa da Fenearte) – Pavilhão do Centro de Convenções de Pernambuco, Olinda

Horário: 17h

* Evento aberto ao público

Preço do livro: R$ 40,00 (físico) e R$ (R$ 20,00)