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5º Prêmio Pernambuco de Literatura lança livros vencedores

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Escritores de Carpina, Garanhuns, Nazaré da Mata, Paulista e Recife apresentam suas obras nesta quinta-feira (26), a partir das 19h, no Museu do Estado

 

A Companhia Editora de Pernambuco (Cepe), a Secretaria de Cultura do Estado e a Fundarpe lançam nesta quinta-feira (26), às 19h, no Museu do Estado, os cinco livros vencedores do 5º Prêmio Pernambuco de Literatura. O certame, cujos nomes vencedores foram anunciados em outubro do ano passado, consagra os trabalhos dos escritores Amâncio Siqueira (Nem tudo cabe na paisagem, Contos), Enoo Miranda (Chã, Poesia), Ezter Liu (Das tripas coração, Contos), Fred Caju (Nada consta, Poesia) e de Walter Cavalcanti Costa (O velocista, Romance).

Além das obras editadas pela Cepe, os vencedores do Prêmio, que tem como objetivo o fortalecimento da produção literária pernambucana, foram agraciados com premiação no valor total de R$ 40 mil. O resultado alcançado nesta edição revela a diversidade criativa dos nossos produtores: uma reunião de contos sobre viagens e descobertas; um romance-livro de memórias do protagonista; um poemário que joga luz sobre o fazer criativo do poeta; uma narrativa que mergulha nas pequenas tragédias cotidianas do homem e, ainda, um conjunto de histórias que evidenciam as diversas facetas do feminino, integram a mais recente coleção da Cepe "Participamos, com muita satisfação, desta iniciativa. Promover o livro e a leitura estão entre as principais missões institucionais da empresa e fazemos isso, ainda com mais entusiasmo, quando editamos trabalhos com a qualidade dos que venceram o 5º Prêmio Pernambuco de Literatura", destaca o presidente da Cepe, Ricardo Leitão.

A presidente da Fundarpe, Márcia Souto, também comemora. “Este é um momento importante para todos nós que lutamos por mais visibilidade para a literatura pernambucana e para ampliação do acesso ao livro e à leitura no Estado”, assegura. Além da premiação em dinheiro e da tiragem de mil exemplares de cada obra, o Prêmio garante a distribuição dos livros em escolas públicas estaduais e a participação dos escritores em rodas de diálogo de eventos, como o Festival de Inverno de Garanhuns e de projetos como o Outras Palavras.

 

As obras

 

Grande vencedor do 5º Prêmio Pernambuco de Literatura, Das tripas coração, de Ezter Liu, reúne dezoito contos que têm em comum a temática feminina, mas as narrativas apontam para panoramas diversos. A mulher que é deus, a mulher-monstro, a mulher que foge, a que faz perguntas, a que acende fogueiras. São as várias faces do feminino que protagonizam as histórias. A escolha estética de uma narrativa sem vírgulas aponta para a necessidade de contar sem pausas, com o fôlego possível, o que precisa ser contado, porque o texto tira da adversidade a sua força e atravessa os próprios limites para dizer o que precisa ser dito, muitas vezes usando a poesia nas entrelinhas das narrativas como alinhavo e marca de estilo.

 

Tenho dezenove anos e coleciono isqueiros vazios. Coleciono isqueiros. E coleciono vazios. Tenho vinte anos e aprendi a odiar o formato dos meus seios. E aprendi a odiar a finura dos meus lábios. Meu coração Himalaia. Meu coração Vale do Catimbau. Meu coração dimensão estranha. China plástico neon coqueiral. Tenho setenta anos nos domingos depois do jantar. Lenta. Premeditada. Disfarço a imprecisão das mãos. Tenho trinta pontuais anos no expediente. Me sirvo de bandeja. Sem atrasos. Tenho quarenta e três anos e calos nos cotovelos. Me sirvo com gelo no balcão do bar. Tenho cinquenta anos. Preciso parar de beber. Tenho dezesseis anos. Preciso parar de fumar. Tenho sessenta e sete anos. Preciso acreditar nos santos. Em deus. Em mim." (trecho do conto Vulvas brancas de papel).

 

Nada consta é o nono livro de poemas de Fred Caju. Um poemário sobre o próprio poemário, luzes sobre processos criativos do escritor. Pode ser ainda uma pinça a arrancar, uma a uma, as plumas dos poetas. Armadura, também pode ser.

 

"pediram a cabeça

do poeta incendiário

chega de badvibes

foi o que disseram

após a decapitação

o cheiro de pólvora

ficou com cheirinho

de morango e não

se ouviu nunca mais

nenhuma explosão

nasceram arco-íris

longe das chuvas

e nenhum poema

precisa mais existir."

 

Em C, Enoo Miranda evoca pequenas tragédias cotidianas que assolam o homem do nosso tempo, ora evocando cenários e hábitos do trabalho no meio rural, ora realçando conflitos internos ou típicos da vida nos grandes centros urbanos. Mormaço, suor de trabalho, calor de motim, desordem. A maioria das pessoas que vivem nesse livro também vivem em outros lugares. O fogo dos homens. O mesmo fogo que não garantiu a superioridade destes homens sobre os outros animais. O que usamos para matar uns aos outros. Ou como disse um poeta amigo em tom de pilhéria sobre textos de orelhas de livros de poesia: “Bota tipo ‘Sugiro que leia sentado em assento confortável. Se preferir, aperte o cinto. Esse livro é o brilho sobre as vossas carniças’”, e no fim parece ser isso – além do que é.

 

"o ruído que faz a tua sombra

rasgando um pedaço

de chão duro é o de

um corpo-

carcaça

arrastando as

mazelas de

3 gerações

em uma chã

qualquer".

 

Viagem e descoberta são os motes que dão unidade aos contos de Nem tudo cabe na paisagem, de Amâncio Siqueira. O poeta que decide rodar o mundo para viver seu poema épico; o homem que viaja a um passado ainda não cicatrizado durante uma confissão; o marido que volta para casa após despedir-se de um amigo; o índio que quer vingança contra o homem branco que matou seu pai; o pai que caminha no corredor do hospital para encontrar o filho internado; o filho que tenta acertar as contas com o pai durante uma longa viagem... O texto direto lança uma luz diferente sobre situações cotidianas, expondo seu teor dramático nos recortes apresentados, muitas vezes flertando com o cômico, incidindo como um raio X sobre a vida ao redor.

 

"Não fez essa viagem hoje. Ontem Júnior teve várias convulsões. A médica teve que encontrar uma veia na cabeça para injetar morfina. Dormiram como não faziam há seis anos: Natália sobre seu colo e Júnior sobre o colo dela. Passaram uma hora assim, e foi todo o descanso que tiveram. Sua viagem foi longa pela manhã: atravessar a rua para tomar café. Quase dormiu sobre o balcão da padaria, mas o cansaço era tão grande que fechar os olhos não bastava para cessar o estado de alerta. Fechar os olhos faz a mente viajar ainda mais, embora ela passeie apenas em volta do leito do hospital."

 

No percurso de O Velocista, o autor Walter Cavalcanti Costa navega pela experimentação formal e procura mostrar suas influências em quatro epígrafes: o futurismo europeu, o modernismo brasileiro, o concretismo brasileiro e a teoria literária. Com linguagem telegráfica, a obra é também um livro de memórias do protagonista, o astronauta Jô Tadeu. O velocista, antes de ser uma odisseia espacial, é uma fragmentária, melancólica, irônica e nervosa viagem do protagonista a si mesmo e aos que o cercam, através de suas lembranças descontinuadas.

 

"Eu sou Jô Tadeu Tábua, sou astronauta. Sou filho da estilista Carolina Vásquez e do Professor de Ciências Contábeis João Tábua. Sou casado com Beyita Samana, a governadora do Estado de Pernambuco, no Nordeste, da República Federativa do Brasil e sou irmão do artista plástico Von O’ Val, que é casado com a bibliotecária Valbuena Sales, que fala sete línguas ocidentais. Sales trabalhou com meu pai, João Tábua, no local onde hoje é a biblioteca que recebe o nome dele.

 

Tenho um filho chamado João Tadeu. Uma filha está para nascer. Nasceu.

Estou há 35 dias, 6 horas e 27 minutos terrestres no espaço."

 

 

Mais sobre os escritores

Ezter Liu nasceu no Recife, mas mora em Carpina desde criança. Graduada em Letras, escritora de prosa e poesia, desde o ano de 2005 tem seus textos publicados em várias coletâneas na região e no estado. Em 2015, pela Porta Aberta Editora Independente, lançou seu primeiro livro solo: Vermelho alcalino (poemas). 

Fred Caju é autor de Arremessos de um dado viciadoAs tripas de Francis Conceição por ela mesma, Paisagens sépiasIntervalo abertoEstilhaçosTranspassar: poemas de atravessamentoO revide das pequenas maldades e Permanência. Também é editor, artesão do livro e livreiro nômade da Castanha Mecânica


Enoo Miranda é escritor, coordenador do Cineclube Tela da Mata, professor licenciado em Letras pela Universidade de Pernambuco, campus Mata Norte, situado em Nazaré da Mata, município onde reside e trabalha. Entre suas publicações encontram-se textos em antologias, como Inquebrável: Estelita para cima (Mariposa Cartonera, 2014), a coletânea 1 (Publique-se!, Livrinho de Papel Finíssimo, 2015), e o livro solo Papel de pegar mosca (Porta Aberta, 2016). Atualmente se dedica à criação do selo Vão! Edições e Publicações Independentes.


Amâncio Siqueira nasceu em Afogados da Ingazeira e mora em Garanhuns. Aficionado por livros, acalenta a ilusão de que existem aqueles que ainda não foram escritos e tenta escrevê-los. Entre tais tentativas, teve publicada a novela Quebra Cabeças, em 2014.


Walter Cavalcanti Costa é doutorando em Teoria da Literatura (PPGL/UFPE). A maior parte de sua formação foi realizada na UPE/Mata Norte, com graduação em Licenciatura em Letras, especialização lato sensu em Literatura Brasileira e Mestrado Profissional em Educação (PPGE/UPE). Recifense, nascido em 1989, é professor rede pública de ensino de Pernambuco. Na escrita, realizou publicações acadêmicas em revistas científicas. Publicou Entressafra 89 (2011), livro de poemas e contos que também ganhou curta-metragem, e Marlinda: em diálogo de amor às suas cidades (2017), livro infantojuvenil incentivado pelo Funcultura, em parceria com Milca de Paula.

 

* Com informações da Assessoria de Imprensa da Secult

 

SERVIÇO

Lançamento dos livros vencedores do 5º Prêmio Pernambuco de Literatura 

Data: 26.04.18, quinta-feira
Horário: 19h
Local: Museu do Estado
Endereço: Avenida Rui Barbosa, 960 - Graças

Valor dos livros: R$ 20,00 (cada)