Encadernado e em cores, o álbum traz quatro histórias baseadas em fatos reais, ocorridos durante a ditadura de Getúlio Vargas
Por: Mariana Mesquita
Quatro histórias baseadas em fatos reais, que têm como ponto em comum o fato de se passarem numa sociedade autoritária, que persegue os artistas, os diferentes e todos os que se posicionam publicamente contra o governo.
A descrição do álbum em quadrinhos "O obscuro fichário dos artistas mundanos" parece tristemente familiar nos dias atuais, mas foi inspirada numa pesquisa que levantou dados em prontuários policiais do Departamento de Ordem Política e Social (Dops) registrados em Pernambuco entre os anos de 1934 e 1958, durante a era do presidente Getúlio Vargas.
Com roteiro de Clarice Hoffman e Abel Alencar, e ilustrado por Greg, Paulo do Amparo, Maurício Castro e Clara Moreira, a obra tem 115 páginas coloridas e cuidadosamente integradas, num resultado estético impactante.
A iniciativa da Cepe é importantíssima, porque apesar de haver um longo histórico de produção de HQs locais, as obras eram independentes ou publicadas por editoras de São Paulo ou Rio de Janeiro.
"O obscuro fichário dos artistas mundanos" foi inspirado na pesquisa homônima da jornalista e produtora cultural Clarice Hoffman, que se debruçou sobre milhares de fichas e prontuários até localizar 429 que tratavam de homens e mulheres que foram investigados por serem artistas. Este era o caso de sua avó, Gusta Gamer, que era mal vista pela polícia por quatro motivos: era russa ucraniana, judia, mulher e artista.
"São histórias independentes, e embora sejam baseadas em documentos históricos, os nomes dos personagens e as situações são fictícios", explica Greg, ilustrador e quadrinista que também atua na Editoria de Arte da Folha de Pernambuco. Com larga experiência em HQs, ele foi o responsável por ilustrar duas das histórias, juntamente com Paulo do Amparo, que desenhou as outras duas. O pintor, desenhista e gravador Maurício Castro criou a capa, contracapa e inserções, e a artista visual Clara Moreira produziu a lápis de cor o sensível interlúdio final. Trechos dos documentos reais intercalam-se no material.
A partir de um roteiro inicial, a equipe foi burilando e ajustando textos e imagens, num trabalho que durou um ano inteiro. "Foi um processo longo, nunca pensei que fazer quadrinhos desse tanto trabalho", brinca Clarice, que descreve o resultado como "uma homenagem a essas pessoas que viveram essa violência e resistiram".
Nos próximos dias, os admiradores do universo HQ terão duas oportunidades de ter contato com a equipe que produziu "O obscuro fichário dos artistas mundanos". Nesta terça-feira (19), será o lançamento oficial do Selo Cepe HQ, às 19h, na Casa do Derby (Praça do Derby, 109). Haverá um debate mediado pelo jornalista Paulo Floro, mestre em comunicação e culturas midiáticas, com a presença do editor da Cepe, Diogo Guedes, e dos autores de "O obscuro fichário" e de "Polinização".
Já na quinta-feira (21) será o lançamento propriamente dito da obra, que vai acontecer também às 19h, no Armazém do Campo (av. Martins de Barros, 387, Santo Antônio). O livro será vendido por R$ 35 (versão impressa) ou R$ 12 (e-book).