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Cinquentenário do Movimento Armorial

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Conheça relíquias da Orquestra Armorial de Câmara de Pernambuco preservadas no Acervo Cepe

 O Movimento Armorial completa 50 anos. Para se ter ideia de sua relevância, o maestro Isaac Karabtchevsky chegou a considerá-lo a iniciativa mais importante já feita pela cultura brasileira desde a Semana de Arte Moderna de 1922. Foi idealizado pelo escritor Ariano Suassuna com o objetivo de valorizar o barroco nordestino a partir das várias expressões artísticas: literatura, artes plásticas, teatro e dança. A data oficial de lançamento do movimento é 18 de outubro de 1970, mas o ano é mais representativo como período inicial de criação dentro de todas as expressões artísticas do armorial. O movimento encontrou na música o seu maior veículo de divulgação, com a Orquestra Armorial de Câmara de Pernambuco, formada por componentes do Conservatório Pernambucano de Música, que completa 90 anos.  

Na época Ariano Suassuna definiu a essência do estilo armorial na recuperação de melodias barrocas, preservadas pelo romanceiro popular, pelos toques de viola e da rabeca dos cantadores, e pelos aboios dos vaqueiros sertanejos. 

Relíquias produzidas pela orquestra estão preservadas no Acervo Cepe, disponíveis para download gratuito pelo site http://www.acervocepe.com.br/. Todo esse material foi resgatado pelo maestro Sérgio Barza, organizador do título Orquestra Armorial de Câmara de Pernambuco – 45 anos, composto por três volumes. O livro foi produzido pelo conservatório e lançado em dezembro de 2015, com apoio cultural da Companhia Editora de Pernambuco (Cepe).

Os originais de 31 músicas da orquestra foram digitalizados pela companhia e estão à disposição do público no Acervo Cepe. Fazem parte dessa coletânea composições de Antônio José Madureira, Benny Wolkoff, Henrique Annes, Clovis Pereira, Cussy de Almeida, Jarbas Maciel, José Tavares de Amorim, Waldemar de Almeida e Capiba.

De acordo com Sérgio Barza, além de preservar os originais manuscritos, o trabalho de digitalização da Cepe colocou as músicas à disposição de orquestras e grupos de todo mundo, divulgando a música erudita pernambucana. O maestro ressalta a força estética do movimento e lamenta o desinteresse dos autores de livros de história da arte ou da música brasileira em analisar ou estudar o Movimento Armorial.

Entretanto, considera que o importante hoje é repensar o Movimento Armorial num contexto mais amplo, não apenas temporal. “Pensar no diálogo com a estética da música nacionalista de Villa-Lobos, com a estética de Guerra-Peixe e de Béla Bartók, com o Modernismo, com o Manifesto Regionalista de 1926. E rever sua história além dos feudos e disputas que até hoje impedem uma avaliação ampla e honesta dessa arte pernambucana, nordestina e brasileira”, destaca.

O último disco da primeira formação da orquestra é de 1980, e as apresentações de divulgação também são dessa época. Houve uma nova formação da orquestra na primeira metade dos anos 1990, que contou com suas últimas apresentações em 1994.

“A música da Orquestra Armorial deixou questões não resolvidas e, de certa forma, não deixou sucessores. É uma música necessariamente para orquestra de câmara, com formação definida de cordas, percussão e flautas, mas não ampliou seus horizontes. Não há obras de música armorial para grupos de câmara, piano, duos ou orquestra sinfônica pelos compositores originais. Compositores posteriores até escrevem música com elementos nordestinos para uma formação como a Orquestra Armorial, mas não com a elaboração que as composições originais têm, e especialmente sem sua espontaneidade”, diz o regente.

PERFIL DE SÉRGIO BARZA

Regente, pesquisador e professor do Conservatório Pernambucano de Música. Trabalhou com diversos grupos, e foi regente convidado da Orquestra Sinfônica do Recife, Grupo de Percussão do Nordeste e Orquestra Criança Cidadã. Tem diversos artigos publicados na Revista Continente, além de um livro sobre a história do Conservatório Pernambucano de Música e a coordenação da edição das partituras da Orquestra Armorial de Câmara de Pernambuco, ambos pela Cepe.