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Livro ajuda a entender negacionismos e suas consequências 

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Editado pela Cepe e organizado por José Szwako e José Luiz Ratton, Dicionário dos Negacionismos do Brasil traz verbetes escritos por pesquisadores de várias áreas científicas

 

Com mais de 100 verbetes assinados por uma centena de pesquisadores das mais diversas áreas científicas, o livro Dicionário dos Negacionismos do Brasil discorre sobre atitudes de negação coletivas em áreas como ciência, história, educação e meio ambiente, e suas consequências devastadoras. Editada pela Cepe, a obra de 336 páginas é organizada pelos pesquisadores José Luiz Ratton e José Szwako. 

O lançamento será dia 19 de abril, às 19h, no Museu do Estado de Pernambuco (Mepe), no bairro das Graças, com a presença dos organizadores. E no dia 20, também às 19h, haverá uma conversa sobre a obra no site oficial da Cepe no YouTube, com a presença dos organizadores e do antropólogo e cientista político Luiz Eduardo Soares,  e da pesquisadora da USP Heloísa Buarque de Almeida. 

Vale a pena abrir um parêntesis para esclarecer a diferença entre negação e negacionismo. “O processo de negação é algo ao qual todos estamos sujeitos individualmente. Já o negacionismo é coletivo e costuma se espalhar em tempos de guerra ou de crise, incentivado por indivíduos com alguma influência sobre a coletividade”, declara Ratton, professor de sociologia da UFPE. É o caso do filósofo Olavo de Carvalho, do presidente Jair Bolsonaro, do ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e do seu estrategista, Steve Bannon. Segundo o sociólogo, é através desses gurus do negacionismo que a democracia é posta em xeque, a partir de informações falsas que buscam somente atender aos interesses das indústrias. 

O objetivo dos negacionistas, segundo os autores do livro, é gerar medo, insegurança e dúvida cognitiva na comunidade. “A ampla variedade de negacionismos contemporâneos (científicos, políticos, raciais, de gênero e históricos, por exemplo) é fruto das estratégias de grupos hegemônicos ressentidos com a perda relativa de status e a expansão de direitos de coletividades historicamente oprimidas”, escrevem Ratton e Szwako - que é doutor em ciências sociais pela Unicamp - na introdução do dicionário.

Atualmente não é comum encontrar blogs, sites e grupos das redes sociais compostos por propagadores e seguidores que negam a ditadura civil-militar e a tortura; o impacto climático e ambiental do aquecimento global; a pandemia de covid-19 e a eficácia da vacina; o racismo e o sexismo; o terraplanismo, entre outras negativas. “Negar fatos difundidos pela ciência retira sua credibilidade e incorre em uma tentativa de revisionismo da história e de apagamento da memória histórica. A tecnologia empregada em redes sociais como Twitter, Youtube e Facebook proporciona um enorme alcance de público das fake news, também chamadas de pós-verdades”, explica Ratton. 

Para o doutor em sociologia pela Universidade de Oxford e colunista da Folha de São Paulo, Celso Rocha de Barros, autor da apresentação do livro, os pesquisadores que assinam os textos “produziram um documento que atesta a teimosia da democracia, da busca pelos fatos e da paciência do diálogo. Os verbetes aqui elencados não são, de modo nenhum, a palavra final sobre os fatos; mas todos eles aceitam o teste dos dados, da lógica e da argumentação moral. Se o debate público brasileiro tivesse se pautado por estes princípios nos últimos anos, nossas instituições seriam mais sólidas, nossas vidas seriam melhores, e centenas de milhares de brasileiros que se foram durante a pandemia ainda estariam na conversa”, escreve Celso. 

Colocar em dúvida a ciência pode ser sinônimo de aumento da desigualdade social e da qualidade de vida. E não só isso. O pós-negacionismo consiste em um “ataque violento à ciência e à democracia, como forma de intimidação, para constranger as pessoas e implantar um pós-fascismo”, alerta o sociólogo. 

 

Alguns verbetes e seus autores:

Academia Brasileira de Ciência (ABC), por Dominichi Miranda de Sá, pesquisadora da Fiocruz

Água, por Eliana Mattos Lacerda, pesquisadora da London School of Hygiene and Tropical Medicine (LJHSTM)

Aids e negacionismo, por Gustavo Gomes da Costa, professor e pesquisador da UFPE

Artes visuais, por Júlio Cavani (jornalista, realizador e escritor) e José Luiz Ratton (professor e pesquisador da UFPE)

China, por Marco Cepik, professor e pesquisador da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)

Comitê científico da covid-19 - Nordeste, por Sérgio M. Rezende, ex- Ministro da Ciência e Tecnologia (2005-2010)

Genocídio à brasileira, por Paulo César Ramos, professor e pesquisador da Universidade de São Paulo (USP)

Gripe espanhola (Brasil), por Lilia Moritz Schwarcz, professora e pesquisadora da Universidade de São Paulo (USP) e Princeton University

Imprensa negacionista, por Daniela Pinheiro, jornalista, trabalhou na Folha de São Paulo, foi editora das revistas Veja e Piauí e diretora de redação da Revista Época. Faz mestrado na Universidade de Lisboa. 

Música Popular Brasileira, por Débora Nascimento, jornalista, trabalhou no Jornal do Commercio e no Diario de Pernambuco, atualmente é repórter especial e colunista da revista Continente.

 

Serviço:

Lançamento do livro Dicionário dos negacionismos do Brasil (Cepe Editora)

Quando: 19 de abril

Onde: Museu do Estado de Pernambuco (Mepe), nas Graças

Horário: 19h

Preço: R$ 60 (livro impresso); R$ 24 (E-book)

 

Dia 20, às 19h, no canal oficial da Cepe no YouTube (https://www.youtube.com/cepeoficial): conversa com José Luiz Ratton, José Szwako, Luiz Eduardo Soares e Heloísa Buarque de Almeida