
Livro: Quinteto Violado, 50 anos
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Parece que foi ontem. Eu, quase uma garota, na minha primeira reportagem para o extinto e saudoso Caderno C, do Jornal do Commercio. Era, na época, uma “foca”, como costumam chamar quem está se iniciando na profissão de jornalista. A missão: entrevistar um novo grupo musical, que estava aguardando a equipe do JC em um pequeno teatro que ficava quase vizinho ao Palácio dos Manguinhos, sede da Arquidiocese de Olinda e Recife. Ou seja, no mesmo terreno, ali nas Graças. Não sei se o teatro ainda existe. Mas o Quinteto Violado, está aí para contar história.
Os meninos estavam lá, com a formação original. Não lembro se no local haveria apresentação do grupo ou se eles o utilizavam para realizar ensaio. Marcelo era o mais falante. Foi ele que me explicou a origem do nome do conjunto. É que quando desembarcavam, para uma apresentação na Nova Jerusalém, em Fazenda Nova, um moleque os viu chegar e chamou a atenção dos colegas: “Chegaram os violados”. Pronto, o nome pegou. Ganhei minha primeira capa no Caderno C. E, a partir dali, fui recebendo pautas mais trabalhosas. Posso dizer que minha carreira de repórter começou junto com o Quinteto Violado, no extinto JC impresso (agora o jornal é só virtual).
O grupo dedicado a explorar a música regional é hoje uma das bandas de música mais antigas em atividade no Brasil. Pois está completando 50 anos em 2021 e tem a sua história resgatada em livro. A biografia do grupo, Lá Vêm os Violados, foi escrita pelo jornalista José Teles, o maior especialista em história da MPB em Pernambuco e um dos jornalistas do setor mais bem informados do Brasil (não só em MPB, mas também em música em geral). O livro a ser lançado pela Cepe pode ser encontrado nas lojas da editora a partir de próxima quarta-feira (20/10). Nas 248 páginas da publicação, ele relata a trajetória do Quinteto desde a estreia no ano de 1971, em Nova Jerusalém, cidade-teatro construída no Agreste pernambucano, até o projeto Na Estrada, com a banda de Pau e Corda, interrompido em 2020 pela pandemia da Covid-19. José Teles conversou com os músicos e seus parceiros, produtores e amigos.
Também pesquisou em publicações sobre o conjunto, em jornais e revistas. O resultado é a história do Quinteto contada pelos shows, discos, viagens nacionais e internacionais, entradas e saídas de integrantes. E também a importância e o papel do grupo na divulgação de nossa música. Tudo contextualizado com o momento político (a banda surgiu em plena ditadura militar), musical (a Bossa-Nova e o Tropicalismo já tinham passado) e social do País.
O livro foi lançado originalmente em 2012, pelas Edições Bagaço, para marcar os 40 anos do Quinteto, celebrados em 2011. “Esta é a terceira edição de Lá Vêm os Violados, refeita, atualizada e acrescida de mais dez anos”, informa José Teles. “Na música brasileira, o Quinteto Violado tem importância equivalente a Chico Science & Nação Zumbi (banda nascida na cidade do Recife no começo da década de 1990), à época em que foram criados”, declara o jornalista. Ele ressalta a importância do grupo no livro:
"Eles levaram para fora do Estado ritmos como ciranda e cavalo-marinho. No rastro do Quinteto surgiram muitos grupos, como a Banda de Pau e Corda e o Concerto Viola, em Pernambuco, e o Bolo de Feira, de Sergipe. O Quinteto Violado trouxe à tona essa música popular que era ignorada no Brasil e que mesmo em Pernambuco, tornara-se invisível. Além disso, foi pioneiro na renovação do Carnaval pernambucano, mesmo gravando frevos com outra instrumentação, em que a flauta era o instrumento solo, algo que não agradava aos puristas."
Destaca Telles que o grupo inovou, ao criar arranjos para músicas já conhecidas, contribuído para dar mais visibilidade ao Rei do Baião, Luiz Gonzaga (1912-1989), ao gravar canções do artista pernambucano. “O arranjo para Asa Branca é muito badalado”, destaca José Teles. De acordo com os artistas, para Luiz Gonzaga esse foi o mais lindo arranjo já feito para Asa Branca. O Quinteto, comenta José Teles, sempre dividiu o palco com convidados. “Dominguinhos (sanfoneiro, 1941-2013) andou bastante com o Quinteto, muita gente achava que ele fazia parte da banda”, comenta. “E Gonzaguinha (cantor e compositor, filho de Luiz Gonzaga, 1945-1991) abria shows para eles.” No livro, a paraibana Elba Ramalho recorda que foi ao Rio de Janeiro com o Quinteto Violado, para participar de um espetáculo do grupo, e de lá não mais retornou, seguindo a carreira artística.
Da formação inicial, há apenas Marcelo Melo (voz e violão). Mas os demais integrantes não são novatos: Ciano Alves (flautista) faz parte do Quinteto desde 1979; Sandro Lins (contrabaixo), ingressou há mais de dez anos; Dudu Alves (tecladista e arranjador) e Roberto Medeiros (percussionista). Em 50 anos, 15 músicos, sem contar os convidados, passaram pela formação do Quinteto, que lançou álbuns por seis gravadoras nacionais e duas estrangeiras. Toinho Alves, contrabaixista, um dos fundadores e peça fundamental para o grupo, morreu em maio de 2008, aos 65 anos, após sofrer infarto.
Fonte: Blog OxeRecife (19.10.2021)
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