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Todas as expressões de Adão Pinheiro

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Obra de artista gaúcho é revisitada em livro com organização de Lêda Regis e Christine Barth e edição da Cepe Editora

Misticismos e arquétipos. Materialização do inconsciente coletivo a partir de estudos da obra do psiquiatra suíço Carl Jung (1875-1961). Arte sobreposta ao espírito. A obra do artista gaúcho Adão Pinheiro, 84 anos, expressa conhecimentos de séculos e geografias diferentes em um mesmo papel, tela, madeira, argila ou barro. Artista transgressor de conceitos e desgarrado das técnicas, também já assinou roteiros, cenografias e direção de arte. O filme Baile Perfumado (1996), é um exemplo. Foi fundador do Movimento da Ribeira, em Olinda, nos anos 1960, participando ativamente da efervescência artística da Cidade Patrimônio da Humanidade. Nos anos 1980, foi diretor da Fundação de Cultura, Turismo e Esportes de Olinda. Mesmo com esse currículo, continua sendo até hoje um ilustre desconhecido, tanto em Pernambuco como no resto do Brasil.

Daí a importância do livro Adão Pinheiro, editado pela Cepe e organizado pela bióloga e escritora Lêda Regis e pela artista francesa Christine Barth. A obra será lançada dia 17 de novembro, às 19h, na Sala Janete Costa do Centro Cultural Mercado Eufrásio Barbosa (Largo do Varadouro – Varadouro, Olinda/PE). O evento também marca a abertura de exposição multimídia do artista.

O livro traz textos da historiadora das ideias, Maria Lêda Oliveira, do poeta e escritor Fernando Monteiro, do artista plástico Raul Córdula e da crítica de arte Joanna D’ Arc Lima, sobre o complexo universo do artista. “O (a) leitor (a) encontrará nesse livro um arquivo que reúne parte de um acervo artístico e documental — uma garimpagem de cerca de 160 obras visuais de 1958 até 2016”, revela Joana, para quem o livro “vem preencher uma brecha aberta na historiografia da arte praticada à partir do nordeste brasileiro para o Brasil/mundo”, escreve a crítica de arte.

Sem falar das obras que ilustram o livro de 292 páginas, contendo cronologia de sua carreira, recheada de prêmios e exposições mundo afora. A obra também reproduz o texto de apresentação da exposição Transparência & Caracteres, ocorrida na Suíça, em 1973, escrito pelo pensador suíço Pierre Furter; assim como um outro artigo, escrito pelo poeta Fernando Monteiro para a exposição D. Sebastião, realizada na cidade do Porto/Portugal, no ano de 1996.

Nascido Adão Odacyr Pinheiro, natural de Santa Maria, no Rio Grande do Sul, em 1938, o pintor, desenhista, gravador, entalhador e cenógrafo ganhou texto especialmente sobre a aquarela Crisopeia (1977), assinado por Maria Lêda. “No autorretrato se encontrava o momento de uma inflexão na vida criativa de Adão Pinheiro, a qual o levou, paulatinamente, em direção a uma busca específica: a da ação criativa como um processo consciente/inconsciente de autorrealização”, descreve a historiadora.

A postura adotada pelo próprio artista, de não se preocupar em conservar suas obras, configura um dos motivos para o desconhecimento do público. “Eu não lambo minha cria”, disse certa vez o artista. Assim como sua opção de mergulhar nas camadas do inconsciente individual e coletivo. Pesaram ainda o fascínio pela liberdade, por não seguir regras academicistas nem vanguardistas, muito menos técnicas artísticas. Além de artista plástico, Adão escreveu peças de teatro, assinou cenografias e figurinos, assim como direções de arte. “Eu não respeitei a aquarela como técnica. Eu não respeito técnica nenhuma”, disse o artista.

Adão até chegou a cursar a escola de Belas Artes. Mas preferia aprender com o mestre Abelardo da Hora, que estimulava os artistas a produzirem seu próprio material de trabalho para conhecerem todo o processo de criação. Ou com Aloísio Magalhães, n’O Gráfico Amador. Também conviveu e aprendeu com Hermilo Borba Filho, Gilberto Freyre e Paulo Freire. E com os artistas que participaram ao lado dele do Movimento da Ribeira, como Ypiranga Filho, José Barbosa, José Tavares, Guita Charifker, Tiago Amorim (Sebastião Wilson Ferreira de Amorim), Montez Magno, Anchises Azevedo, Vicente do Rego Monteiro e João Câmara.

Fonte: Literatura RS